segunda-feira, 7 de março de 2011

leitões de Jeovah

Somos uma espécie frágil. Sem outros seres pacíficos para explorar com nossos polegares opositores e mioencéfalos desenvolvidos, seríamos reduzidos novamente à condição de pequenos símios pelados, lutando por toda a eternidade evolucionária contra babuínos genocidas e invejando a sociedade plural e depravada dos bonobos. A sedentarização súbita trouxe novas necessidades que estimularam nosso potencial criativo, e daí à agricultura, à domesticação dos primeiros animais e à civilização foi um passo depois do outro. Desde estes tempos aparentemente remotos, algumas espécies atraíram a atenção comum dos Homens espalhados pelo mundo.

Por exemplo, o porco. O animal roliço e furunchador, com sua carne saborosa, macia e gordurosa, concentrou os maiores esforços primitivos de domesticação. E, com raras exceções, transformou-se em um semi-Deus, criado como um igual nas tribos ancestrais. As sociedades que fugiram ao dogma da adoração suína, tornaram-se amarguradas, rancorosas e passaram a carregar um karma de azar e nomadismo. Não é preciso dizer mais para saber onde começou a tragédia dos judeus. Negar o porco original foi profanar um importante aliado da humanidade, prescindir de proteínas essenciais ao desenvolvimento saudável e tentar justificar estas conseqüências terríveis com dogmas divinos fraudulentos que perduram até hoje.

Embora antropólogos tenham recentemente comprovado que foi a dificuldade de criar porcos nas regiões áridas o motivo para as proibições morais, nada impediria os abastados judeus (ladrões da Arca da Aliança e construtores do maior Templo desde a Pirâmide de Gizé) de trocar um pouco do ouro de Salomão por belos cachaços da África tropical ou da Índia. Afinal, o comércio é uma constante humana, como comprovam os resquícios de pasta de coca no Egito e os frangos incas e maias importados da Ásia séculos antes da invasão ibérica. Ao decidir que o preceito religioso prevaleceria sobre a nutrição completa, os fariseus enfraqueceram a Judéia, interiorizaram a inveja e a cobiça pelos povos dotados de chiqueiros e abriram caminho para seu auto-extermínio.

As múltiplas invasões da terra santa, a Diáspora, as perseguições, o holocausto e a guerra sem fim com os árabes demonstram que "Idolatrar e Consumir o Porco-Deus" deveria ser o primeiro mandamento de suas tábuas da Lei.

terça-feira, 1 de março de 2011

é o meu Paraná

Na série inaugural "é o meu Paraná", buscaremos sintetizar a importância do legado desta terra de pinheiros em extinção, monoculturas de soja e uma capital de clima e vida instáveis que nenhum paranaense leva a sério. Para tanto, consideremos que, se existe algo cuja expressão coincide tanto à primeira vista quanto à análise última, é a arquitetura de um povo. Desde os tempos remotos (e até o advento das cidades cenográficas), os monumentos capazes de aturdir o olhar demonstraram enorme sofisticação técnica e estilística, em alguns casos ainda insuperáveis, como as pirâmides, a torre de Babel, o templo de Jerusalém, os monolitos de Tiro, os pagodes graníticos de Ankor Wat, as estátuas da ilha de Páscoa, etc...

As lágrimas que um muçulmano verte sob a mesquita de Meca são, à parte do transe religioso, da mesma genuína emoção de um turista boquiaberto diante da Notre Dame em Paris ou de uma criança que vê o carrossel pela primeira vez. Manifestações fisiológicas que servem de termômetro para a grandiosidade de uma civilização. Assim como a inexistência de parques de diversões constitui um decréscimo qualitativo na escala infantil das nações, um Egito sem o farol de Alexandria é obviamente mais decadente, e assim sucessivamente.

Do Paraná, podemos dizer que sua gente não poupou esforços ao erguer tais zigurates de dimensões divinas, carregados de aura mística e encantamento imediato. Um exemplo recente é o "Monumento dos Campos Gerais" feito em Ponta Grossa para homenagear nossos pinheirais com um sugestivo apelo freudiano:

Conhecido popularmente como "Cocozão" e detentor do título internacional de "maior bostaço em suspensão", era motivo de orgulho&preconceito e de equilibrados dissensos (algo comum na história da torre Eiffel, da Estátua da Liberdade, da pirâmide do Louvre, dentre outras construções lendárias), até sofrer uma curiosa infestação de vespas e ser incinerado pelas autoridades:

"Vespas do cume saem": Cocozão liberando gases após o acidente.

Repetiu-se uma tragédia da dimensão daquela que erradicou o Partenon (feito depósito de pólvora pelos otomanos, explodiu durante a guerra). O Paraná foi privado de um obelisco mítico; o mundo, de um dos maiores feitos da engenharia moderna.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

homerase palimPséstica

E eis que o processo de homerase se desenrola, revelando novas camadas do palimpsesto. Soube sarapotear o indíviduo ímbolo, posto que ele não tenha diregimido a taratexia que o afligia.

Desolizei a ele: "por que fizeste o salinte tão suturrento?"
Ele rapalou: "porque a silapse mo obrigou"
Trelogi: "como pode uma mera silapse da tua taratexia obrigar-te a algo?"
Ele feneliou: "da mesma malina que a sua reporante samelar lecobral te faz dizer coisas sem sentido"

((apenas testando))

terça-feira, 26 de junho de 2007

pela 1ª vez totalmente em português, a história comunista do super Mário


Para qualquer um criado nos anos 80, poucos nomes tem impacto semelhante ao do Super Mario Brothers. Jogamos o videogame, assistimos ao desenho, lemos sobre ele, compramos seus produtos, comemos o cereal matinal e, até, vimos filmes horríveis apenas porque faziam alguma referência ao jogo.

Além do estereótipo levemente racista de Mario e Luigi como amantes da comida, com barrigas e sotaques italianos ridículos, será que existia algo r
ealmente insidioso por trás do personagem? Nós encontramos algo maior, algo sinistro, rastejando por trás das bonachonas feições “embigodadas” de Mario e Luigi. Nós não temos evidência suficiente para provar qualquer coisa, apenas uma trilha de migalhas esparsas para seguir. E essa trilha começa com o videogame que iniciou tudo, o Super Mario Bros. Tenham cuidado, tolos de cérebros lavados, pois esta exposição atordoante mudará a sua forma de ver seu personagem preferido da Nintendo. Trazemos à luz, finalmente, o fato de que Mario e Luigi não são nada mais do que fantoches comunistas, criados para insculpir ideais marxistas em nossas mentes jovens e impressionáveis.

A) Esquema de cores do Super Mario.


Se qualquer coisa pode ser dita sobre Mario é que ele veste muito vermelho. Está no seu nome; está na cor do seu suspensório, nos seus super cogumelos, na sua bandeira e, mesmo, no seu chapéu. Mas talvez sejam apenas coincidências. Talvez a cor vermelha em Mario e seus jogos não signifique nada. Pois ele não é inteiramente vermelho – seu cabelo, camisa e sapatos não o são.



Ou são?

Isso é apenas uma opção aleatória feita pelos programadores da Nintendo, ou o vermelho foi escolhido intencionalmente e com um propósito?

B) O Herói do povo

Os habitantes do Reino do Cogumelo são mostrados, pela Nintendo, como bestas de carga lentas de raciocínio. Mesmo Toad, que é capturado em todos os mundos, estranhamente, é capaz de repetir apenas uma única frase. Enquanto Mario está, supostamente, lutando contra um Déspota tirânico, nós podemos ver o quão dispensável o povo se torna quando obsta a sanguinária busca de Mario pelo poder.

C) Rei Koopa

Pelo fato de a missão de salvar a princesa parecer genuína, nos encontramos facilmente distraídos quanto ao real resultado da aventura: a deposição de uma monarquia. Poucos percebem a significância do vilão deste jogo, o Rei Koopa, que é um rei de fato, não um usurpador.

Enquanto Mario está esmagando e destruindo em sua marcha pelo Reino do Cogumelo, um governo popular está sendo deposto! Isso não lhes lembra a Revolução Russa, na qual a família real inteira foi deposta e executada por comunistas?

A representação de reis como répteis vis não é uma mensagem importante? Podemos apenas supor o que ocorrerá com a Princesa que Mario está tentando “salvar”, quando este conseguir o poder para si mesmo... Note-se que o jogo omite, astuciosamente, o destino político do reino. É Mario o governante? Se é Mario, sob que título? Difícil imaginar uma coroa em sua cabeça. Trata-se de uma deposição, sim, e uma alteração do regime político.

D) A mudança de bandeiras

Ao fim de cada nível, Mario precisa remover uma bandeira e hastear a sua própria. Em conformidade com as outras facetas dúplices deste jogo, nada parece errado aqui. Sob inspeção mais detida das bandeiras envolvidas, no entanto, podemos saber, com exatidão, os ideais aos quais Mario preza:

Hmm, uma bandeira com o símbolo da paz. Sua ditadura não pode tolerar isso, pode, Mario?

Depois que o castelo é submetido e o líder regional é deposto (e atirado em um lago de fogo), descobrimos mais claramente quais são as intenções de Mario quando ele hasteia a sua própria bandeira da vitória.

O que é aquilo tremulando sobre as ameias? O símbolo da paz do Reino do Cogumelo? A bandeira americana? Os ramos de oliveira das Nações Unidas? Não, nós podemos ver claramente que é a Estrela da Rússia. Pode conferir você mesmo, estas imagens não são falsas.

E) O que há nos nomes?

Mario é o primeiro nome de Mario Alicata, braço direito de Palmiro Togliatti, membro fundador e secretário do PCI (Partido Comunista da Itália). Luigi vem de Luigi Longo, outro membro importante do mesmo PCI, também ligado a Palmiro Togilatti.

Uma cidade russa adotou o nome de Togliatti em homenagem ao porco comunista,
Толья́тти, e adivinhem qual é o monumento mais importante da cidade...

Um castelo, extremamente parecido com os que encontramos ao longo do jogo. Coincidência?

F) Com quem Mario se parece?

Heróis de videogame são pessoas que nós gostaríamos de emular. Sonic é rápido e esperto. Os Contra são “do mal”, mesmo que morram com um único golpe. E Link usa uma espada e tem um harém de fadas vagabundas e gostosas esperando-o. Que criança digna dos seus Legos não gostaria de ser qualquer um destes modelos de comportamento? Por que, então, a Nintendo escolhe, como seu principal herói, um narigudo e gordo encanador com um bigode feio e suspensórios ridículos? Por que foi escolhida esta que é a mais estranha figura heróica? Estranha, sim... e deliberada? Analisando as evidências à luz desta jogada oculta do comunismo internacional, a resposta para este mistério é óbvia. Mario, e seu irmão, são nada menos do que representações em desenho de Joseph Stalin. Stalin era o amicus humani, amor patriae da Rússia, o super-homem comunista. Poderia este “super” Mario representar outro “super” homem? Bem, isto fica para vocês pensarem...


Com as evidências, uma sinistra verdade aparece sobre nosso amado herói de infância. O que se segue é uma dramatização, baseada no que acreditamos que realmente ocorre no Super Mario Bros.

A História do Super Mario

Em um dia pacífico no Reino do Cogumelo...


Poderão deter Mario?


Os meios insidiosos de Mario, o esmagamento de cérebros e o roubo de ouro nunca terão fim? Descubra o que o Rei Koopa tem para dizer:

Não perca a conclusão assustadora!


Um video que mostra o verdadeiro Mario.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

sobre subversivos (ou sobre aqueles que a tudo seguem, ainda que neguem sua natureza de seguidores e escrevam poemas como se subversivos fosSem)

Lirismo mal-comportado, verborragia do incomum
Grito contido, entalado, empoça no manancial
Fermento de corpo alado, ascende ao céu qual pum
Anjo mastigado, saliva da Besta, do Demo Animal
Certo ou errado? Indaguem aos coágulos de Ogum
O que passa e vinga (além da pinga) é nosso pântano plural

terça-feira, 19 de junho de 2007

sobre uns e outros (ou pt e psdb, pcb e pcDob, eja e abl, pcc e rOtary, par e pdu ...ad infinitum)

Uns...
Prolataram-se do partido proletário
Argüimos: "apopléxicos apocalípticos!"
Redargüiram-se revolucionários (risos)

Outros...
Preferem perder a pecha de patriciado
Duvidamos: "democrático?!", com desdém
Unem-se na umbria dos vazios, não dos maldosos

Forças obsoletas dão-lhes amparo sinistro eternamente
Far-se-ão ouvidores, doutores, advogados, matadores, senhores, escravos
Falsos óbices democráticos acalmam moucos seres ex-politizados
Feéricos óbolos doados aliviam mentes sem escrúpulos

Entre revolucionários renovadores
E patrícios envergonhados

La nave va!

uma quEstão de sigla


Aprovada em reunião do conselho universitário nova sigla e logotipo para melhor caracterizar o "papel universitário perante a comunidade" na gestão Moreira Júnior. As Engenharias, intrometidas como sempre, rejeitaram a escolha. Propuseram "Universo de Fissuras, Pinos e Remendos".

Mas essa só vai colar quando a UFPR desabar...

domingo, 17 de junho de 2007

a paródia dos erRos

A PARÓDIA DOS ERROS


This is the original Parody Of Errors”

William Shakespeare


I bet do not bet is better”

Croupier honesto (e desempregado)



PERSONAGENS: Muitos, mais q’uma porção. Todos os personagens são reais, e já disse Dastaiévski que toda realidade pertence à ficção. Portanto, ler e descobrir, eis a solução.



ATO ÚNICO


Cena I

[Bar-do-Chinês-das-Arábias, ponto final da Cruz Machado com a João Gualberto. Os amigos discutem sobre uma aposta 1 ]


ACADÊMICO BATATA [Bebe e fala ao mesmo tempo]

- A aposta e a jogatina são tradições imanentes de todos os estudantes! Não as joguem na latrina! Lancem suas idéias para que, sobre a mesa, em breve lancemos e colhamos moedas!


DITA

- Continue a beber, e logo vai se lançar à latrina com todas as suas moedas, rogando, qual apaixonado na Fontana di Trevi, para que o sofrimento o abandone e não o leve. Assim como na fonte do amor, jamais recuperará o que lá no fundo investiu, pois, se a nota do redator não viu, a prenda já foi escolhida. É pastel de ovo-de-pomba, e, mesmo que não acredite, é comida.


NILTON BOBBIO

- Certo, sobre o prêmio não podemos deliberar. Que tal, então, discutir a aposta? Já tenho uma proposta: PAR x PDU, quem vai ganhar?


DITA

- Segundo a lógica aristotélica, não há outra opção que o PAR. Somos da esquerda a variante mais fina, o pijama do rosa mais azul que veste a mais mimada menina. Não reinventamos a roda, por andarmos de marcha a ré, mas sem nenhuma fé criamos uma cor filatélica que dita a moda. Temos uma palheta sob medida: não é rebelde, não é rupestre, não é urbana, não é cigana, não causa furor, não traz candor, em resumo, não representa nada. Dista do verde-colifórmico do PDU, musgo onde pastam bodes que chegados a onze na estação de agosto, abandonam da pelagem a cor de mosto e desaparecem como alimento dos urubus.


ACADÊMICO BATATA

- Concordo. Sem honra ou glória, renovamos a história usando guache no pintar. Éramos (mais de seis, sabeis?) da esquerda a colorida sensação nos campos ressecados da opressão. Vibrante e harmoniosa era nossa bandeira rosa-choque, pujante e revoluta n’alta gávea a balançar, dos tempos em que galés fenícias singravam o alto-mar. Veio o tempo implacável, milênios d’intempéries, nuvens soluçantes que às flâmulas pujantes desbotam, tiram o brilho, a cor, o viço, dão-lhes sumiço... Assim, aos frangalhos, fustigada pelos torrões de granizo, nosso pendão se transformou em azul a partir do rosa, e nossa linda poesia na pior e mais jurídica prosa.


DITA

- Ótima consideração, apesar de não chegar a ser uma idéia. Não tivesse o partido eu como orador, negaria todos os princípios da Paidéia, e transformaria em louco o mais sábio educador. A última discussão relevante do PAR foi sobre os candidatos a mascote do partido, pois já havia passado a definição da cor da camiseta e a época do trote, e acho que a Tênia do Mucilo ganhou, só porque de beber ele foi impedido, e lamentou não ficar diariamente cozido.


ACADÊMICO BATATA

- Não era tênia, era um cisto de Esquistossoma mansoni na meninge. E quem ganhou a disputa foi a tua cadela que usa fralda, luta aikidô e já participou como coadjuvante no fringe.


NILTON BOBBIO

- Amiguinhos! Eu fui do CAHS presidente, nas incríveis descobertas burocráticas sou experiente, como a criança que antes de todos perde os dentes da frente e caçoa dos velhos dentuços. E do alto da minha sabedoria presidencial, banguela de minhas faculdades mentais, afirmo que Mozart foi o farmacêutico dos florais, que o marxismo é meta-discurso morto, que a esquerda crítica deve ferver no cal e, é claro, que além de não ter pau, Garrincha não era torto. Agora que ouvida está toda a verdade, deixemos de lado as paixões da imaturidade, pois logo virão outros para discutir o óbvio e superar as pedras onde tropeçou o pacóvio.


Cena II

(Entram no bar M&M e vice-versa e Renegumelo)


RENEGUMELO [Veste uma coroa espetacular, similar a um cogumelo]

- Séquito de esporos polvilhados por este Cogumelo que advoga em muitos foros, saibam: a alguém fungado não se elogia os cabelos, assim como a cavalo dado só resta avaliar os pêlos! Eu já nasci no mais alto cume, rei em manjedoura d’estrume, mas não é tudo que eu sei: respondam-me, energúmenos, o que está pegando?


M&M ♂ [Usa um enorme óculos escuro. Gesticula muito, escravo das próprias mãos]

- Eu, particularmente e sem ninguém notar, pego as ancas de minha nova companheira, mas, na instância da panelinha sorrateira, pegam-se uns aos outros na decisão da nova aposta do PAR. Uma aposta bem filha-da-puta, meu!


RENEGUMELO

- Enquanto retoco meus apliques, proponho uma tocaia contra o inconveniente Leandro Mantra Tao, inimigo superveniente e mortal, vitimado pelos mais anti-partidários chiliques.


M&M ♂

- Baita filho da puta, meu!


M&M ♀ (Num surto, estimulada por M&M , que funga em sua nuca)

– Ah, é o Mantra Tao que escreve e age de forma estranha, que com filosofias ásperas e marmita de pão seco nos assanha e que ainda se autodenomina um alforríneo apoliado?


RENEGUMELO

- Isso é mais certo que errado, pois ele de fato é um apolíneo alforriado. Gostaria de vê-lo como uma nova Fênix feita de pão queimado. Fosse eu Felipe Dreamer, mal vestido, maconheiro e discípulo de Foucault, diria que devemos vigiar e punir este infrator, rotulá-lo de microfísico cocô e nele impingir a mais previsível e segura dor.


M&M ♂

- Ele é só filho da puta, meu, e digo mais: um baita filho da puta! E também um filho da mãe, já disse isso? Quem ele pensa que é? Mais filho da p..., digo, mais popular que nós?


M&M ♀ [Num frêmito, estimulada por M&M , que pega seus peitos]

- Uhm... É... Mesmo sendo o lema do inimigo, eu dou a torcer (ai, no umbigo não!) o meu umbigo: tem que participar 100% do PAR ou ir pro cantinho chorar a sós!


M&M ♂

- Como seria essa tocaia? Com muita filha-da-putice, não? Já a aprovo de antemão, mesmo q’envolva eu babando de histeria, gritando “filho da puta, filho da puta” ou a AAAAA...D mandando mal na bateria.


M&M ♀ [Num ímpeto, estimulada por M&M , que levanta sua saia]

- Ai, você é tão nojento! Minha tristeza precisa de alguém para embolar um baseado, mas a esquerda-dos-piás-de-prédio deixou de lado o uso inteligente da inteligência e do fumo libertário da maconha! Este partido é uma agência do tédio que reúne a cúpula mais bisonha!


M&M ♂ [canta uma serenata para M&M ]

- Não vês o gel que brilha em meu cabelo

Minha tez bronzeada à luz artificial

Tratada com cremes e bolsas de gelo

Que transformam qualquer a-ni-mal?

Não vês que minha vaidade é sem fim

E que não serve a ti, apenas a mim?

Coberto toda a manhã com a menta

Do mais raro e importado ungüento,

Este corpo que você beija e tenta

É a prova de que não sou nojento!


M&M ♀ [Num estalo, estimulada por M&M , que oculta suas mãos em um local indizível]

- Essa discussão é a violência mais violenta! Trata com euforia de preconceitos que ninguém aceita e nega, como minha rinite, a panacéia diária do emboladinho verde que cura o conservadorismo, a falta de criatividade e a artrite.


RENEGUMELO [para M&M ]

- Se ela não vê, eu vejo, se ela não quer, eu quero! Com todo o respeito, és o favorito e mais filho-da-puta smurf azul de uma terra de pombas mancas e gárgulas de ferro que revoluteiam nas grutas onde impera o Cogumelo-Rei! Praticas com seu pônei o difícil turfe na serra para ser prestigiado nos jogos jurídicos! Gargalhas alto, briga com bêbados e acompanhas anjos nefídicos! Exiges de todos a tua lei, mas jamais questionas o estatuto do parista deletério! Respeitas os mandamentos, adicionado de um, que é praticar o adultério, e multiplicas à conta o que de improfícuo sabe contar, que são alguns dedos da mão, e apenas para citar, tens por alterego Gargamel e pões em bom conceito a traição de Caim&Abel.


M&M ♂

- Obrigado, mas chega disso, porra! Imagino já nossa brutal desforra. Uma peleja sem motivação, igual àquelas de Lampião; o primeiro golpe sempre por trás, e acompanhado de menos de dois não se faz, pois às vezes é preciso que segurem nosso punho quando é o diabo que aparece no meio do redemunho.


RENEGUMELO

- Agora que decidimos a aposta neste bar sujo e infecto, desconsideramos a opinião do resto e descobrimos um novo bode expiatório, a Executiva planejará o que faremos em segredo circunspecto, e por tão bem termos manejado nosso cabresto sequer seremos condenados ao sanatório!


Cena III

(Entram Menina, G-3 e Pira E Se Acaba)


PIRA E SE ACABA [Menina sussurra o discurso]

- O’vi parte da conversa e tiv’uma idéia boa à beça. A próstata, digo, po-prosta do Renegumelo é cheia de boas intenções, pois nele a bondade é como nos tru-beculosos os pulmões. A gente pode iniciar um círculo vicioso de fofocas contra o Leandro Mantra Tao, para que ele fique louco e tente reagir, e aí temos desculpa para o fratí... fatrí... frací... fati...


MENINA [para Pira E Se Acaba]

- Fra-tri-cí-di-o!.


PIRA E SE ACABA

- Isso, ‘brigado...


[alguém grita]

- Menina, você ainda não é presidenta pra usar porta-voz!


MENINA [Alterada]

- Ai, me inscreve na pauta! Isso é crime! É crime! Eu estou profundamente ofendida, porque alguém é insano e eu, ser humano! Sinto-me como uma flor sem pétalas que cheira a meia, como esturricada sereia, como despedaçada noz!


G-3 [Bate com os punhos]

- Lamento, Menina, mas aqui não tem pauta e impera a lei da voz mais alta. Se você se chamasse Migué, eu apoiaria sua candidatura e até mesmo lavaria seu pé, mas como baba qual animal, o que não convém à filha de afamado jurisconsulto, termine esta rapadura, depois lave a boca com limão e sal. E, como presidente da mesa-de-bar, eu passo a palavra pro próximo bêbado do PAR!


MENINA [Furiosa]

- Ai, que insulto! É um insulto! Pode zombar do meu nome ou da minha borbulhante saliva, mas jamais chame de jurisconsulto um poeta feito da mais árcade oliva! As odes de meu pai são conhecidas em todo o universo, suas estrofes unem versos em todos os idiomas, suas metáforas promovem diásporas, seu talento é uma doença com infinitos sintomas. E, se não se lembra, este partido legou de sua pena a marcha fúnebre de um corrompido império, mais do que um hino...


[alguém grita]

- Um vitupério suíno!


TODOS OS PARISTAS [Declamam com orgulho, mãos esquerdas sobre a testa]

- “Nem azul nem vermelho (Rosa! Rosa! Rosa!)

Fogo acende a noite

E esquenta o chá de erva

Para a mulher doente

Lá fora

O deserto se desorganiza

Aqui

A madrugada acaba só

Nem azul nem vermelho (Rosa! Rosa! Rosa!)

O fogo acende vagarosamente

Uma nesga de esperança

Sobre o escuro atento

E as presas no rebanho diário”2 (Por onde for, vou arrebanhar!)


DITA (Levanta-se, abotoa a camisa, tira um pozinho imaginário do colarinho e lança um olhar maroto a esmo)

- Concordo platonicamente, apesar de bêbados estarmos todos. A celebração de uma tocaia homem-vítima contra homem-jagunço não é a criminologia dos engodos: coaduna com a filosofia de honra dos bellatorii medievais, perpetua o espetáculo insano dos pancrácios, dos gladiadores e dos carnavais e revela a podridão do Direito com a falência da Justiça para os desiguais. E eis que fiz tudo rimar, se fosse escrito, enfiava numa garrafa e lançava ao mar. Numa garrafa vazia. Portanto, vamos beber!


Cena IV

(Na rua. Ponto final da Cruz Machado com a João Gualberto. Encontram-se Mucilo, Ta Mao e Leandro)


MUCILO BETY

- Ei! Como vão?


TÁ MAO

- Na luta, na luta. (À parte) Que é jargão socialista que vem pelo vício, porque militar n’esquerda é um suplício pr’alguém que é gordo, preguiçoso, um estrupício! E você, Leandro? Parece preocupado, até afoito.


LEANDRO MANTRA TAO

- Sinto-me como um cão sarnento após duas horas de coito, mas como sou apolíneo convicto, se isso disse, desdito. E, bem, não importa. O que importa é que soube por uma estudante de pedagogia, que soube por uma de psicologia, que soube dum mendigo sentado na sarjeta d’agonia, que por sua vez escutou discussões altas num bar da freguesia, que a testa-de-ferro do PAR quer q’eu morra!


TÁ MAO

- Ha! Ha! É bem capaz, mas depois que eu saí, rapaz, não se faz mais assim... A dita aqui se faz de dura, mas é pipa mole e nunca fura. Por isso, não leve nada em política a sério: mesmo que suas motivações fossem um mistério, nada acabaria no cemitério.


LEANDRO MANTRA TAO

- Sou nitiano, levo ainda mais a sério: se fosse rei, seria Lear e perderia um Império. Se fosse plebeu, sofreria como vodu de Nero ou de Tibério. Pois soube que m’humilharam o passado e o presente e decidem meu futuro, querem-me aleijado e doente em briga de foice no escuro!


MUCILO BETY

- A paranóia pode ser saudável, pois, mesmo irracional, treina o corpo e a mente para enfrentar um momento execrável. Mas, sendo eu racional, o execrável no PAR e o saudável em você não os vi. (À parte) O que eu disse? Nem eu entendi!


LEANDRO MANTRA TAO

- Mesmo que não veja, basta que lhe diga que não só querem minha morte, como já planejam o funeral. A tocaia está pronta e o algoz está armado no centro d’imensa teia à espera do inseto malfadado. E como complemento, em que pese o desalento, afirmo que zombaram de seu cisticerco verminal.


MUCILO BETY

- Ah, agora é pessoal! Ninguém me faz de boçal, passando-se por popular sacal! Ou isso ou não tenho quem me ama (ou seja, eu mesmo), esqueço meu nome, o conforto de minha cama e m’afogo na lama! (À parte) Melhor abandonar o discurso, e mandar a todos uma banana.


LEANDRO MANTRA TAO

- Não disse? Miseráveis! Conspiram contra mim e contra ti de forma abjeta e vil, Teseus em Creta, lobos sanguinários de covil! As areias d’ampulheta se esvaem, nosso tempo urge c’o perigo. Se eles querem meu cadáver, agora já sei quem está comigo! No caldeirão da mais azul bruxaria, estarei eu, como um João da Silva em forma de Super-Homem, e erguendo minhas mãos de pedreiro sobre a sesmaria celeste, amaldiçoarei e mandarei à peste qual Antônio Conselheiro tudo o que esses seres sem pensamento bebem e comem!


TÁ MAO

- Nesse caso, seu temor me convenceu, e temo que rápido devemos agir, para não temer o porvir como temeu Odisseu. O mais triste seria o Leandro ficar tão mal quanto eu. Cada alma é um potencial eleitor, e se o clima não acalma, não teremos sequer ator. Vamos, Mucilo, depressa! Para interromper a insanidade e salvar da tragédia esta peça!


Cena V

(Entram no bar Ta Mao e Mucilo)


TÁ MAO [Vermelho como um seminarista acuado por uma freira assanhada]

- Puta-que-o-pariu! Vocês têm que se tocar, cambada! Essa reunião tá uma merda, pior que Luiz Caldas dançando lambada! No meu tempo discutir política era coisa rara, bar era lugar para encher a cara!


MUCILO BETY [Sobe na mesa]

- Olha, galera... Eu não estou entendendo nadica-de-nada e nem quero que me expliquem, porque agora eu fiquei muito puto! Também não sei se sou ingênuo ou astuto ou se o Pira E Se Acaba sabe falar “perscruto”, mas se vocês querem ver sangue acadêmico, é melhor deixarem para o Candomblé tudo o que for polêmico, e pedirem permissão ao babalorixá do Terreiro que eu freqüento.


TÁ MAO

- Moçada, essa idéia de legitimação é o bicho-grilo, digo, o pai-de-santo. Lá no ENED de Pindamonhangaba a base da FENED espatifou igual goiaba por minha causa, e foi na consulta a um médium da Pomba-Gira que eles decidiram o posicionamento sobre a reforma universitária, e fizeram um parecer que mais parecia relatório da vigilância sanitária.


RENEGUMELO

- Então, recapitulando, vamos abrir a aposta: representando a essência do PAR, nossa tocaia que levará o pleno azar ao inimigo xiita, Leandro, para que morto e enterrado jamais seus despautérios repita. Antes, contudo, nossa decisão deverá ser analisada por um pai-de-santo indicado pelo partido, e para que cheguemos a tanto, vamos ao terreiro do Mucilo, onde tudo o mais fará sentido.


JULIANO [Aparece do nada, dentre as cortinas]

- Quanta baboseira! Já vejo tudo, pois enquanto não estudava aprendi a apostar: Uma roseira carcomida é o PAR, e Leandro a sagaz saúva! Dessa longa manus azul não sobrará sequer a luva! E agora vou depilar meu saco no banho de sais que eu ganho mais!


TODOS [Acompanhando Mucilo até o Terreiro]

- Vamos, vamos, uma aposta nos espera e a rinha está por vir!

Vamos, vamos, para pelego comunista essa reza há de servir!


Cena VI3

[Noite. Terreiro de Sinhô Mura-Ogum. Há uma cabala desenhada no chão com médiuns nas extremidades, velas, pinturas de Orixá e efígies de Hugo Simas espalhadas]


ACADÊMICO BATATA [Comendo um prato de farofa]

- Estamos longe de casa e da família, longe dos bares bem freqüentados e dos cafés com mobília. Esse terreiro é distante e escuro, e na caminhada errante, em meu sapato fiz um furo. Estou longe dos restaurantes à la carte, onde a esquerda abonada discute Weber e Sartre, e longe da faculdade, onde estimando até o chulé de retratos sem idade nos fazemos queridos. Sentiria medo dessa entifada, não me sobrassem os nutritivos amidos desta farofa sagrada.


ROSCORÓI

- Não acho, ó... Deixa eu falar, pô, eu quero falar Batata, pára de olhar pra mim que eu me desconcentro... Não ri, não ri [aponta para alguém]... Pô... Assim, então... Meu, pô, não acredito! Esqueci o que ia falar, mas se alguém quiser eu repito! Não acho, ó... pô![Desconsolado, entrega-se aos cafunés desdenhosos de uma dona].


MUCILO BETY [À parte. Afasta-se, fantasia-se de babalorixá e volta acompanhado de um adevogado pigmeu que corre e dá mortais pelo terreiro]

- Agora que a noite me oculta

E que capto a energia mística

Este grupo pagará cara multa

Por zombar

De minha enfermidade cística!


Do veneno de meus vermes

Rápido qual astuto Hermes

Fá-los-ei, ó ingênuos, provar

Morte de peixe fora do mar!


Não aprecio a contenda

Pouco importa seu resultado

Mas se o pretexto não é fardo

Esta será minha senda

Assumindo o papel de pai-de-santo

Vingativa e rubra será a cerimônia

Convertido será o ritual banto

Em amálgama de lágrimas e insônia


Sou agora Sinhô Mura-Ogum

Babalorixá de grande renome

Minha magia é como o pum

Trovão que ar e água consome

Relâmpago do lugar nenhum

Que às bestas do além dá fome


TODOS [aflitos]

- E aos impotentes?


MURA-OGUM

- Dá fome também.


TODOS [aliviados]

- Amém.

MURA-OGUM

- Fidelidade e amor, legados de Zambi nosso Senhor seguidos pelo mirim adevogado, que se converteu à crença como ao carnear o gado, e hoje não há quem o vença... Vejam que milagre, virou um Bambi! Pular assim exige a incorporação do fugaz ‘spírito do sapo-boi!


TODOS

- Oooohhh! E vai e vem e foi! E vai e vem e foi!


MURA-OGUM [Empunha um tacape]

- Agora que se exercitou, pagarás por ter sido increu, pelos tempos em que não orou! Pigmeu, és do tamanho de uma bituca, mas menor é a minha compaixão: com este tacape moerei tua nuca, de teus miolos farei pirão! [Gritos]


MURA-OGUM [À Ialorixá, depois de rezar pelo fim da política partidária]

- Procedi à reza exata e louvei o sangue coagulado, mas os espíritos em bravata descansam em integral enfado. Falhei, e tudo foi insatisfatório. Ó minha Ialorixá, devo beber o licor do mictório, até o Sol raiar bater-cabeça aos pés do Orixá ou esvair de um golpe só minhas entranhas?


IALORIXÁ

- A última, com certeza. Quero vê-lo sobre a mesa, morrer tal qual rês velha entregue às piranhas!


MURA-OGUM

Pois como sou sacerdote de fé e senhor do meu destino, não acatarei o seu imperdoável desatino, e escolherei beber a minha pura urina, que a mim nutre e aos iníquos calcina, incluindo Ialorixá, aquela que não sabe se prostrar sem ser do-contra.


IALORIXÁ

- Pensei que fosse sábio qual coruja ou arguto qual raposa, mas vejo agora que diante da morte sua fé foge por esporte, lisa como a mais esguia lontra!


MURA-OGUM [Bebe sua própria urina]

  • Não ‘stá funcionando, nem gosto de xixi sinto. Ah, que falta faz o absinto! Só há uma solução, o viés do mais insano: a reza-forte, o sacrifício humano! E agora? Quem se dispõe com’oferenda a Exu Todo Poderoso? Preciso de um corpo virgem, descoberto em meio à fuligem; doces lábios que resistiram às vespas; mãos suaves, com as cicatrizes das felpas; olhar luminoso como dia e misterioso como a noite; lombo de menina-d’engenho que sobreviveu à senzala e ao açoite!


ACADÊMICO BATATA

- Infelizmente eu não posso ser o escolhido, pois uma quiromante me disse: “serás pastor, terás riquezas e arrumarás marido”, mas se há um critério em que ninguém chia, ele se chama PARIA MIA!!! Nome de santa e de heroína das FARC! A fusão de Madre Teresa com Joana D’Arc! É a nossa salvação, vinda dos grotões da minha imaginação! Paria, não mia, responde: aceita sublimar-se sem pistas e superar a matéria que te prende para flutuar no limbo mítico dos mártires paristas?


PARIA MIA [Luzes. Paria Mia passa por radical transformação: pára de piscar, deixa de mascar chiclete e abandona sua prosa vulgar]

- Ai, sim...

Eu estava indecisa até um minuto atrás,

Pensava em resistir, lutar e fugir,

Agora sei, como não sabia Barrabás

Que devo c’outro mundo interagir


[Ela é vestida com a toga-de-umbanda e amarrada às estacas no chão. O sacrifício começa]


- Ai, de mim!

Da direita-querosene sou cria:

Turbou-me com fuligem o pensamento

Queimou-me o mais nobre sentimento

Legou-me a fumaça da agonia!


[Tambores, berimbaus e gaitas-de-fole tocam em frenesi. Sua face é coberta com o sangue de pomba ritual]


- Ai, estopim!

Da esquerda veio a redenção:

Batizou-me novamente como pia

Ungiu-me c’os florais da Samaria

Fez da poesia a minha oração


[O espírito da morte a possui. Ela se contorce e grita]


- Ai, é o fim!

Reencarnada como flor-de-palma

Ou como saltitante e feliz anta

De nada ser o que não é adianta

Se retorna ao pó a própria alma


[Desvanecendo, Paria Mia balbucia um último e sofrível lamento]


- Ai, caprichoso querubim

Dedilha a sua harpa lancinante

Deitada em cheiroso sassafrás

Quero ver a Morte vir em paz

Galopando um esqueleto errante


ACADÊMICO BATATA [De olhos vermelhos]

- Paria Mia, abandona o ritual, foge ao suplício!! Arrepia, oferece o corpo sensual, mas não em sacrifício!!


MURA-OGUM [Toma o corpo epiléptico de Paria Mia]

Tarde demais! No místico não interpelam vários finais! Uma escolha foi feita, e Paria Mia, a necromante dos bacanais, pertence a um espírito sem seita! Em suas vísceras se enlaça a Pomba-Gira, que rejuvenesce enquanto sua hospedeira expira! Sinto meu poder, ele cresce como uma erupção, mais implacável que as três cabeças de um Cérbero apocalíptico! Feneçam todas as Repúblicas que como linces se vestem da democracia e todos os partidos que cultuam os deuses pagãos da burocracia, feneçam todos os imbecis no último breu eclíptico!

FELIPE DREAMER [De joelhos]

- Paria Mia, seus gemidos são os Salmos de Davi! Não posso acreditar no que ouvi, é trinar agudo de sabedoria, a pura clarinada da erudição. Que pare, pare agora a cantoria, ou terei mil jatos d’ereção. ‘Stou atordoado qual codorna em tiroteio, eriçadas pelas penas como eu pelos pentelhos... Caí tombado em meus joelhos, altivo só meu pássaro-irmão do meio. O cigarro que havia em minha boca foi ao chão, assim como o isqueiro e o maço de cigarros da outra mão. Oh, gira meu cocuruto, pulam de meus bolsos porções de baseado e inumeráveis charutos. E q’imagem é esta à minha frente? São Fadas, ou que é esta visão? Flutuam pelo céu, balouçam em êxtase piteiras-de-condão, dispersam o conhecimento alternativo em nuvens de tabaco mágico nativo!


IALORIXÁ

- Vixe, ó menino... É só um Preto Velho travestido que para o resto da vida vai te acompanhar.


FELIPE DREAMER [Chora]

- Não, não pode ser! E as Fadas, lindas e de gracioso cantar?


IALORIXÁ

- Tudo imaginação, ‘cê’stá drogado! Além do espírito viado, vai ganhar também um eterno mau-olhado!


FELIPE DREAMER [Segura as calças e foge para o Chile]

- O mau-olhado eu já tenho, não é muito o que perdi! Embora, pensando bem, a falta do perdido eu vá sentir.


MURA-OGUM [Ri à exaustão]

- Qualquer prece a qualquer Santo é inútil depois que se levanta a mão espectral de Banto! Iemanjá, Yelael, afoguem os jovens reacionários, os políticos que vivem às esgueiras, queimem-nos em fogueiras como aos farsantes templários! Todos os pelegos retornarão à condição de capachos sôfregos nos quais revolucionários trôpegos esfregarão seus coturnos! Encerrou-se a cabala, completou-se o último ciclo d’umbanda, e agora o Portal do Outro Mundo se abrirá aos meus desejos: chore, M&M ♀, pois a extinção não fará exceções ao coala e ao urso panda! Incluirá também o bebê que engatinha e a mais bela curuminha! Que toda a pseudo-esquerda a negar o Supremo Cisto [coro feminino repete: “Supremo Cisto, Supremo Cisto, Supremo Cisto”] afunde no fundo do poço sem fundo, com os braços histéricos atados à cruz de Cristo, com seus olhos cegos vedados com xisto, com todas as vozes abafadas pelo último arquejo da Besta!


[Luz vermelha e sons de vômito. Ao fundo, um meirinho declama artigos da revogada Constituição de 1988, substituída por outra feita na China. Todos os presentes, inclusive os figurantes, os sonoplastas, o público e Mura-Ogum, intoxicado com sua urina, fecham os olhos, agonizam e rastejam no chão até a morte, exceto Leandro, o Tao Indômito, O Senhor do Azar e da Sorte]


LEANDRO MANTRA TAO [Com um pão seco nas mãos]

- Imponho enfim a vitória sobre os que me negaram a autonomia! Aprendi com os mendigos a desfrutar do lixo, a blasfemar os injustos e a ignorar Durkheim, o teórico da anomia, aquele que não vivia segundo o da-sein! Fui aprendiz de operários e de sábios, fiz do rejeito meus erários, do chorume meus alfarrábios. No pó dos antigos textos me fiz traça, flâmula iconoclasta, e fui perseguido pelos de minha raça por demolir os estamentos e as castas. Conduzi o carro sem volante de Arjuna, O Arqueiro, e com os beduínos fumei narguile e dispensei o cinzeiro. Muitos investiram em minha ruína, fustigando mastodontes-de-Olinda de azuis e verdes crinas. Aos iníquos, cegos e inócuos emprestei meus óculos. Qual Páris vinguei meus estertores. Meu ponto fraco já não existe, já não existem Heitores! Mergulhei na literatura dos anti-heróis, brinquei como os Macunaímas, segui ao contrário os passos dos curupiras, dos sacis egoístas de mil arrebóis ganhei yu’rema. Mestre da filosofia dos mestres iogues, lutei mentalmente contra sucuris, tigres e buldogues. Por meus feitos fui abençoado com um harém infinito, de virgens, estrangeiras, irmãs e primas! Louvo Shiva, Parvati e Ganesha, a revelação e o dilema. Figura furtiva e rápida, metamorfoseado em Makarenko e Kafka, salivo salitre e espirro nafta! Sou a mosca a zumbizar em cada sopa, o andarilho errante vestido em estopa, o viajante oculto da galé fantasma sem proa ou popa! E finalmente, tenham-me hoje pelo sobrevivente único da política acadêmica que em seus campos devastados me refugou qual Aníbal no massacre púnico, mas que em Justiça foi abandonada à morte qual uma praga endêmica dos banhados, ignorando para sempre quem fui, quem serei, quem sou.


FIM


1 Antes do debate central, muitas horas foram gastas na decisão do prêmio. Finalmente, para que a dramatização superasse a primeira linha, o gênio modesto e autoritário do redator outorgou a escolha (uma rodada de pastel de ovo-de-pomba), e incluiu o bar-do-chinês-das-arábias como cenário, embora eles não se ajustem à manière burgeoise da maioria dos personagens (e ponto final)

2 FACHIN, Luiz Edson. Sangra: cio (Dados Familiares). Curitiba, 1980.

3 Para a filosofia hindu, cinco são os sentidos humanos, acrescidos de um sexto, a razão que com tudo estabelece ligações, o mental. E sexto é também o capítulo final, a anti-apoteose serena de tudo o que é político e possui necrose.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

lições preLiminares de etimologia e dicção

Isto não será repetido: "apocalipXia" é a apopleXia que a todos vitimará no decurso apocalíptico da História dos Homens perturbados que denunciam a ancestral maldade, a permanência do Mal e a vinda de um Mal muito pior.

Isso será repetido (repitam, crianças!): APOCALIPXIA se pronuncia "apokalipksia". Sem perdigotos. Sem desculpas.